sábado, 17 de dezembro de 2011

Desapego



Des – apego


 “des -”  negativo +  “apego“ =  pegar”







O conteúdo deste texto anexo, de Martha Medeiros, para mim vale como mensagem de Natal principalmente porque, nesta época, tudo o que se faz contraria o sentido da data.

         Todos nós nos preocupamos em presentear nossos familiares, amigos (a idéia do "amigo oculto" diminuiu o excesso de consumo...?), tem o envelope do moço que entrega o jornal, o que entrega o gás (para quem não tem gás de rua), os entregadores em geral, o Livro dos empregados do Condomínio, as caixinhas enfeitadas pedindo uma contribuição para os funcionários das padarias, supermercados, bancas de jornal e assim vai.

         Além dos presentes, tem as compras nos supermercados para as comilanças natalinas. É peru, tender, bacalhau, chester, os acompanhamentos, a rabanada, os doces, as frutas secas, as bebidas, a mesa bem arrumada com a melhor louça, talheres e cristais. Sem falar nos enfeites da porta de entrada, a árvore, o presépio, o papai Noel e os pisca- pisca iluminando o que podem iluminar.

         É tudo muito lindo! Maravilhoso! Mas como acaba rápido... Em menos de três horas todos já ceiaram, abriram os presentes, repetiram a sobremesa e... A c a b o u!

         Quem se lembrou de fazer uma reflexão sobre o significado do dia, ou pelo menos uma oração, uma leitura de um bom texto? Poucos.

         Gostei do que Martha Medeiros escreveu porque ela fala do DESAPEGO.

         Será que, já que vamos ganhar tanto no Natal (ou já ganhamos durante o ano), lembramos de esvaziar um pouco nossas gavetas e armários? São tantas roupas boas, mas que não usamos há anos e ficamos esperando uma oportunidade para tal que nunca chega. São sapatos, brinquedos sem mais utilidade, louças sem uso, toalhas do enxoval amareladas porque não dão no tamanho das nossas mesas e ficam mofando no armário (de vez em quando lavamos para tirar as manchas e elas voltam para o mesmo lugar).

         Como diz a autora: "Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida..."

         Será que temos os mesmos cuidados com os nossos familiares e amigos durante cada dia do ano que passou, assim como temos em preparar uma Festa de Natal? Por que, do contrário, parece um teatro, uma encenação por um dia apenas. E depois...? Tudo continua como d’antes no quartel de Abrantes.

         Já nos acostumamos com esse comportamento? Vale para cada um de nós pensarmos e... Mudarmos.

         Vamos nos ajudar mutuamente porque não é fácil mudar da noite para o dia, ainda mais com a mídia nos enfeitiçando. Coragem!

         E sobre este sentimento de “balanço” de fim de ano eu, por exemplo, sinto em meu coração esta necessidade de transformação para melhor nos momentos finais de cada ano que passa. Às vezes não consigo alcançar todas as minhas metas e, aí, elas são empurradas para frente, para o novo ano que virá. É o círculo da vida.

         Que, para cada um de nós, o amor impere em nossos pensamentos e ações, porque assim seremos julgadas quando chegar a nossa hora. Vamos exercitar o desapego, o perdão, a generosidade, a paciência, a flexibilidade, a docilidade, o desejo e a vontade para mudar para melhor.

         Feliz Natal! Que em 2012 consigamos alcançar nossas metas.

Desapego
 Martha Medeiros

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou: - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida. Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma.
No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros. Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida.
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile.
Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza. …e se só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!


Um comentário:

  1. Eu já havia lido essa crônica e gostado, mas reli e gostei mais ainda.
    Desapego é uma coisa que quero aprender antes que seja tarde e sobre para meus filhos a difícil tarefa de fazê-lo por mim.
    Parece-me que quase tudo que tenho tem valor afetivo...
    Quero aprender, preciso aprender!!!
    Socorro, me ajudem!
    Beijocas.

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