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Quando o Cais do Valongo foi soterrado para a
construção do Cais da Imperatriz - que receberia Dona Teresa Cristina, em 1843
- Dão Pedro II não poderia imaginar que a história escondida do porto que mais
recebeu escravos africanos no mundo voltaria à tona dois séculos depois, graças
a mais um processo de revitalização urbanística. Dessa vez, no entanto, o alvo
é a Olimpíada do Rio, que acontecerá em 2016, e pela primeira vez desde a
construção do Cais da Imperatriz, o Valongo volta a ocupar lugar de destaque na
nova paisagem da cidade.
Escavações no sítio arqueológico do
cais do Valongo / Foto divulgação Museu Nacional - UFRJ
Achado fortuito?
Nada
de acaso. O cais do Valongo estava sendo buscado quando foi reencontrado nas
escavações para as obras de revitalização da Zona Portuária no Rio. Quem
explica é a arqueóloga do Museu Nacional / UFRJ Tânia Andrade Lima, que
coordena a equipe de pesquisadores da área.
“A
imprensa vem noticiando meio equivocadamente que teria sido um achado fortuito.
Não foi”. Por conta da legislação atual o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) exige que em qualquer interferência no subsolo haja
a monitoração da área. “Entendemos que existia um sítio arqueológico, o cais da
Imperatriz, porque há um pilar naquela área. Mas o nosso maior interesse não
era o cais da Imperatriz, mas o do Valongo, que foi vítima de apagamento
deliberado, como se fosse uma chaga vergonhosa do Rio de Janeiro”, falou a
arqueóloga se lembrando de como um cais foi construído sobre o outro.
“Havia uma circunstância de amnésia social e a
arqueologia é contra essa prática. Entramos com um pedido para resgatar o
Valongo há uns sete, oito meses, e o Iphan aprovou”, contou a arqueóloga, que
chama o cais de “patrimônio dos afro-descendentes” e pede para não usar a expressão
“descoberta”. “Quando as frentes da Prefeitura chegaram, foram encontradas as
pedras do cais da Imperatriz. E percebemos que tinha um aterramento. Uns 60
centímetros abaixo nós encontramos o cais do Valongo.”
Em 1816, durante a estada da família real portuguesa no Brasil, chegou ao Rio de Janeiro um
grupo de artistas franceses com a missão de ensinar artes plásticas na cidade.
O grupo ficou conhecido como Missão Artística Francesa.
Jean Baptiste Debret, figura fundamental da missão,
foi um dos responsáveis por registrar parte relevante das mudanças sociais
daquela época. Retratou os membros da
monarquia, o povo, os costumes e vários aspectos da cultura.
Pintura de Debret
Pintura de Debret
Hoje,
com o que foi achado nas escavações, percebemos com maior clareza como estes
artistas ajudaram a contar toda a história do povo que ali vivia.
‘DESEMBARQUE' (1835), PINTURA DO
ARTISTA ALEMÃO J. M. RUGENDAS
Conta nossa história que...
Segundo as ordens do Marques do Lavradio, a partir de
1.774, toda a compra e venda de escravos deveria ser realizada na região do
Valongo. Estava proibido o comércio de escravos no Centro da cidade.
“Eles queriam que a cidade tivesse
um ar mais europeu e por isso queriam transferir os negros para um único local,
longe da vista de quem chegasse à cidade”
historiador Claudio de Paula Honorato.
MERCADO DE ESCRAVOS NA
RUA DO VALONGO, DEBRET, AQUARELA SOBRE PAPEL, C. 1816-1828. REPRODUÇÃO DO LIVRO
DEBRET E O BRASIL OBRA COMPLETA, ED. CAPIVARA, 2009
Os negros chegavam ao cais e os que estavam aptos à
venda eram levados para as diversas casas situadas nas costas do morro do
Livramento, da Conceição e da Gamboa. Nestas casas, os senhores moravam no andar
superior e os escravos eram exibidos, para a compra, no andar térreo das
propriedades.
Em 4 de setembro de 1843, desembarcou
no Rio de Janeiro a princesa da casa reinante de Nápoles, Thereza Cristina de
Bourbon, para se casar com Dom Pedro II.
Para a chegada da futura imperatriz, o
imperador ordenou as obras de embelezamento e melhoramento do Cais do Valongo, que ganhou um pavilhão de luxo e passou a se chamar de Cais da Imperatriz.
Para marcar a chegada de Thereza
Cristina, a Câmara Municipal, encarregou a Academia de Belas Artes de erguer um
monumento-chafariz em cantaria na então Praça Municipal, hoje conhecida como Praça Jornal do
Comércio.
A família imperial - da esquerda para a
direita: conde d'Eu, D. Pedro II, D. Teresa Cristina e a princesa Isabel.
Foto por Alberto Henschel.
Foto por Alberto Henschel.
“Os Invisíveis”
Conheça um pouco da cultura dos escravos através de
seus objetos
http://globotv.globo.com/infoglobo/o-globo/v/conheca-um-pouco-da-cultura-dos-escravos-atraves-de-seus-objetos/1960589/
"Na literatura arqueológica, esses objetos
pessoais são chamados de 'os invisíveis',
pois contam as histórias das pessoas, falam de suas angústias e temores, de
seus medos e sofrimentos. Os amuletos, por exemplo, eram os últimos recursos desesperados
para a proteção do corpo sofrido e da vida de cada um dos escravos que passaram
por lá", relata a arqueóloga Tânia Andrade Lima.
“Novo é não usado”...
Nesta área da Cidade foi encontrado um cemitério de pretos novos, que
eram os negros que acabavam de chegar à cidade. É o único deste tipo nas
Américas. Foram enterrados seis mil africanos recém-chegados neste cemitério
entre 1806 e 1830.
“A nomenclatura ‘novo’ se refere ao uso, como os negros eram
tratados com objeto, novo era o escravo que não tinha sido usado, que ainda não
tinha sido vendido”, explica o historiador Julio César Medeiros.
É para pensar.
Maria Célia