terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ansiedade

Receita de Ano Novo
 Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
Novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.


Listas


Quem não tem lista de promessas de início de ano? Eu tenho. E como realizar a maioria dos projetos que não deram certo no ano que passou?   Como? Mudando de estratégia? Aprendi, lendo e escutando pessoas que me dão dicas preciosas de como transformar sonhos em realidade, a colocar tudo no papel.

Gosto de fazer listas para me organizar. A mais importante e a primeira do ano é a lista dos meus desejos e objetivos. A lista de metas.

Nessa listagem alguns itens estão presentes quase todos os anos como: reeducação alimentar para emagrecer, voltar a praticar exercícios, retomar os estudos,  caminhar na praia, estudar inglês ou outro idioma etc.

Também faço uma relação de tudo o que é ruim e que me incomoda e queimo para ir embora. É um ritual para queimar os fluidos negativos.

Para ajudar, o que encabeça a relação em 2012 é a frase “orai e vigiai”. Sem isso não consigo eliminar o que me impede de ser uma pessoa melhor. O agir moral do cristão vivifica as virtudes humanas. Mas, como na vida estamos sempre pendendo de um ou de outro lado da balança, tenho desvirtudes.

Uma das minhas desvirtudes é a Ansiedade








Identifiquei-me com o texto de Martha Medeiros “Sem querer interromper” e acho mesmo que é um problema genético. Mas, me esforço para corrigir este gene esquizofrênico.







Quando eu era criança minha vóca falava para os netos: - Tá com “Bicho carpinteiro”? Sabíamos que realmente ele estava conosco ou nós estávamos com ele, era uma simbiose, mas não tínhamos conhecimento da sua origem. Precisei crescer bastante para desvendar este bichinho estranho.
Pesquisei para saber: Que bichinho esquisito é esse?

Bicho carpinteiro é uma transformação fonética que o vocábulo sofreu durante sua evolução histórica. Ao passar da língua latina para a língua portuguesa sofreu alteração na expressão: "bicho pelo corpo inteiro".

Aglutinaram, não é? Era isso que tínhamos na realidade e que hoje identifico como Inquietação ou Ansiedade – é o meu bichinho carpinteiro.






Noto que no corpo a ansiedade aparece de maneiras bem curiosas ou esquisitas. Tenho uma tia que o gene se manifestou em suas pernas quando estão cruzadas: a que fica solta, sem o pé no chão, não pára de saculejar ritimadamente como uma baqueta tocando num tambor. Dá uma vontade imensa de segurar a  perna dela. Só de pensar, me dá aflição. E olha que aflição não deixa de ser Ansiedade. Esta danadinha esta sempre me pegando; tenho que me vigiar.



Outra poderosa variante se localiza numa parte importante e poderosa do nosso corpo: a boca. Ainda bem que existe aquela frase para contra - balançar (e a balança aparecendo para atormentar...): “É mais perigoso o que sai do que entra na boca do homem”. Aí, não pára aí... tem ainda o que sai! Ah! O que sai, mama mia!...




A expressão “o peixe morre pela boca” normalmente é associada à comida. Diziam até, quando casávamos, que o homem morria pela boca... Era uma estratégia para as “meninas” aprenderem a cozinhar. Êta, o mundo é cheio de rodeios e artimanhas até hoje; temos que ficar atentas para não sucumbir.




Quando crianças, costumamos comer para satisfazer nossa mãe, ou mais alguém da família, e o desejo de satisfazê-los pode perdurar, inconscientemente, ao longo da vida. Tem também aquela historinha da “Fase Oral”, deixa pra lá senão é muito “pano pra manga”...




Não passou nem uma hora que você jantou e a compulsão já começa a aparecer. E, quando você come, os ataques de gula são freqüentes, é a famosa “boca nervosa”. 
Dentre as suas excentricidades, minha vóca inventava palavras. Dizia, nestes momentos, que estávamos “desinsofridos” que era o mesmo que insofrido. Esta aparente redundância, que afinal é um contra-senso, ela usava como "desinquieto" e o seu significado era "o mesmo que inquieto".



Em determinados momentos da minha vida, tive e tenho a compulsão alimentar caracterizada pela sensação de perda de controle sobre o ato de “beliscar” e, em seguida, arrependimento de ter comido. É um sintoma de algum outro estado ansioso alterado. Ela gera a vontade de “engolir o mundo”.


“Beliscando”



E... O outro tipo de beliscar.
Olha alguém parecida comigo, beliscando. Que vergonha!




Segundo pesquisa, de cada três mulheres, cinco tendem a devorar o que vêem pela frente em momentos de tensão, stress, ansiedade e insatisfação. É um estado constante de angústia e ansiedade que pode ser causado pelos mais diversos fatores: não gostar da profissão, insatisfação com o ambiente de trabalho, problemas de saúde constantes, auto-estima abalada, a busca inalcançável pelo parceiro idealizado, a pressão em equilibrar família, amigos e dinheiro.
Há também outra compulsão através da boca.


No caso, o cigarro.


Por que as pessoas fumam?
Para substituir a compulsão alimentar por outra coisa.


Controlar a língua e as palavras


 


Jesus assim nos ensinou:
“Ouvi e entendei: Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim contamina o homem.” Mateus






A compulsão por falar é parente bem próximo da impaciência e da ansiedade. Ficamos inquietos e angustiados se não falarmos ou expressarmos o que desejamos.
Eu tenho um primo que morou na casa de meus pais, quando éramos crianças, porque queria aprender um ofício e meu pai o ajudou. Ele era e ainda é gago, embora minha vóca tenha dado com a colher de pau em sua cabeça algumas vezes, além dos sustos que lhe pregava. Eu já manifestava meus sintomas de ansiedade quando ele iniciava a falar e ficava naquele engasgo de dar aflição em aflito, eu tentava adivinhar o que ele queria falar e aí (criança adora falar “aí” – por um momento voltei à infância – me peguei!) é que ele não conseguia. Isto deve ser horrível para quem é gago. Perdoe-me Carlos?
Agora, voltando ao início da conversa, o que nos diz Martha Medeiros sobre este problema que, em 2012, preciso melhorar:







Sem querer interromper
Martha Medeiros


Não é um defeito que mereça entrar no rol dos crimes hediondos, mas é bem chato: pessoas que falam em cima da fala da gente. Ainda nem terminamos a frase, e o nosso interlocutor já está falando junto, numa demonstração clara de que não importa o que estamos dizendo, ele próprio tem algo mais importante a dizer.
Pode parecer uma crítica, mas é, na verdade, uma autocrítica: entre essas pessoas, estou eu mesma. Minha família é ótima, alegre, desinibida, mas tem essa mania incontrolável: todos falam em cima dos outros. Não somos italianos, e sim ansiosos (nascidos e criados num país fictício chamado Ânsia).

É um costume que passa de geração para geração. Mães, pais, avós, tios, primas, todos praticam essa esquizofrenia de não permitir que ninguém termine uma fala, ninguém. A conversa é de doidos, mas as festas são animadas.

Fui incorrigível, desse mesmo jeito, por muito tempo, até que comecei a perceber o quanto a situação é desagradável para quem não faz parte da nossa árvore genealógica. Levei uns puxões de orelha das amigas, o que me salvou. Hoje, se não estou 100% curada, posso dizer que já consigo me conter um pouco.
Procuro não sair falando junto, em cima, atrapalhando o trânsito das palavras. Ouço o que o outro tem a dizer, mas ainda cometo o pecado de terminar a frase por ele. Basta que o coitado vacile na conclusão da sua argumentação, buscando uma palavra que não vem, e eu rapidamente encontro a palavra que ele procurava. Quase sempre acerto, o que não me redime. Por que raios não esperei ele próprio encerrar seu discurso? Nascida em Ânsia, num lugarejo chamado Impaciência.

Nós, os acelerados de berço, não fazemos por mal, mas precisamos nos dar conta de que duas pessoas falando juntas é a anticomunicação. Sabemos como é azucrinante ter que concluir nosso pensamento e ao mesmo tempo ouvir o que o nosso interlocutor está dizendo.
Por isso me compadeço de entrevistadores que usam um ponto eletrônico no ouvido, aquele dispositivo que permite que se receba instruções do diretor do programa. Que sufoco ouvir duas vozes ao mesmo tempo, a do entrevistado falando sobre sua obra e a do diretor avisando: “Arruma o cabelo que caiu no rosto”, “Não se esquece de perguntar sobre o escândalo do ano passado”, “Corta esse chato e chama o comercial”.
Duas vozes simultâneas: adeus, diálogo. Faz alguns anos que prometi a mim mesma: não vou mais me atravessar. Vou aguardar minha vez. Esperar a amiga falar, o namorado concluir. Vou escutar. Vou respeitar. Quieta, deixa ele acabar. Ai, que aflição, não vou conseguir. Putz, não me segurei. Falei em cima, de novo.
Desculpe, desculpe. Termine o que você estava dizendo.

 

Um comentário:

  1. Querida amiga,
    Muito obrigada pelas horas deliciosas que passamos juntas, hoje.
    Quanto a atravessar a conversa, é pecado que toda mulher comete, mais ainda quando não vê a amiga há muito tempo... hahaha
    É tanto assunto, tanto desabafo...
    Ainda bem que falamos e melhor ainda temos com quem falar!
    Beijo carinhoso.

    ResponderExcluir