Muros e desmuros...
Essência de luz protegida por camadas
sobrepostas. Muros que amparam e abrigam, aconchegam
e aquecem o miolo de mim.
No interior desta chama violeta mora meu Self.
Meu muro é estuque, minha
cerca é portão. Ele me cobre me veste e reveste. É minha tela e
percepção, meu tato sentido, corda sensorial de um violão. Você, minha pele... me guarda, me
protege, me
ilumina, me aquece.
Abaixo da
pele,
Existem
verdadeiros muros sólidos.
Uns
protegem, outros não.
“Há um muro de Berlim dentro de mim”
Humberto Gessinger – vocalista do grupo Engenheiros
do Havaí – na canção de sua autoria, “Alívio Imediato”
Muro... Um mundo ilusório
Há muros que já foram derrubados e outros muitos
ainda precisam ser. Os piores
estão
dentro de nós. Existem na nossa
imaginação ou na nossa cultura. São
os
mais difíceis de serem tombados porque são invisíveis, embora sólidos e
resistentes.
São feitos de medos, idéias preconcebidas, crenças e opiniões. Por
que
continuamos a alimentar verdades que não são verdadeiras? É verdade para
nós e
não para outros. Também pode ter sido verdade no passado e não ser agora
ou
no futuro. O mundo muda e nossas perspectivas também.
As
religiões orientais falam que o mundo no qual vivemos e tudo o que vemos e
acreditamos não existe na realidade. São apenas construções de nossas mentes.
Construções,
como muros dentro de nós
Muros
& Murros
“Até os planetas se chocam... e do caos
nascem as estrelas”.
Nas profundezas da alma há sempre insatisfações. Ilusões do sonho
de uma
felicidade que não conseguimos. Ou não atingimos o que tanto desejamos
no
amor, na carreira, na vida.
O filósofo Mário Sérgio Cortella
ensina que o homem insatisfeito é o que tem o
poder de provocar mudanças ao seu
redor. A satisfação conclui, encerra, termina.
Acima da
pele,
Existe uma...
“Murada”
Burca afegã
“Nas ruas de Cabul, uma mulher ocidental chama muita atenção
indesejada. Sob a burca eu estava livre para olhar à vontade sem que ninguém me
olhasse. Eu podia observar as outras pessoas da família fora de casa sem atrair
a atenção para mim. O anonimato tornou-se uma libertação, era o único lugar
onde podia me refugiar, porque em Cabul praticamente não há um lugar tranqüilo
para se estar sozinho. Também vestia a burca para saber como é ser uma mulher
afegã. Como é espremer-se num dos três bancos traseiros de um ônibus quando há
muitos bancos livres na frente. Como é dobrar-se no porta-malas de um táxi
porque há um homem no banco de trás. Como é ser olhada como uma burca alta e
atraente e, ao passar pela rua, receber o primeiro elogio "burca" de
um homem. Com o tempo comecei a odiá-la. A burca aperta e dá dor de cabeça,
enxerga-se mal através da rede bordada. É abafada, deixando entrar pouco ar, e
logo faz suar. É preciso tomar cuidado o tempo todo onde pisar, porque não
podemos ver nossos pés, e como junta um monte de lixo, fica suja e atrapalha.
Era um alívio tirá-la ao chegar a casa.” Texto
retirado do livro “O Livreiro de
Cabul” de Âsne Seierstad
Filhote
de porco espinho
“A história dos porcos espinhos.” É só clicar abaixo.
Acima da
pele,
Existem...
Relacionamentos
Nossos bens materiais não
dizem quem somos, só o que temos. Não preenchem
nossos vazios como ocorre
quando temos uma boa amizade.
Somos muito mais gentis com
as pessoas que são menos próximas e íntimas de nós.
Quanto maior convivência,
menos medo de causar má impressão e menos medo de
que o relacionamento acabe. O
excesso de intimidade com alguém faz com que
projetemos nele todas as nossas
deficiências ou tudo que não toleramos em nós.
É um processo inconsciente no
qual expulsamos de nós e transferimos para o
outro, enxergando nele, o que não
toleramos em nós. O outro passa a ser o
depósito de nossos fracassos e
imperfeições enquanto deveria ser o contrário
porque é quem passa mais tempo
conosco.
Cerca de Grandes
Muros Quem te Sonhas
Cerca de grandes
muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.
Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és -
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.
Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és -
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
2012/2013
Hoje
é véspera da virada do ano. Uma burocracia do calendário cósmico que se
repete
delimitando a fronteira entre o antes e o depois. Deste Tempo que
controla a humanidade
e que nunca atrasa ou pára... O toque de alerta que nos
permite encerrar etapas e
iniciar outras. Tempo de despedidas, de
jogar uma pá
de cal no que está mal resolvido para que as transformações
aconteçam. Tempo de
largar as cascas ou “desmurar” para que,
mais leves e menos armados, nos
coloquemos como uma folha de papel em branco
para novos acontecimentos.
Tempo do fim para permitir o início do novo dentro
de nós.
Maria
Célia