domingo, 30 de dezembro de 2012

Muros e desmuros...


Muros e desmuros...


 Essência de luz protegida por camadas sobrepostas. Muros que amparam e abrigam, aconchegam 

e aquecem o miolo de mim. No interior desta chama violeta mora meu Self.


Meu muro é estuque, minha cerca é portão. Ele me cobre me veste e reveste.  É minha tela e 

percepção, meu tato sentido, corda sensorial de um violão. Você, minha pele... me guarda, me 

protege, me ilumina, me aquece.


Abaixo da pele,
Existem verdadeiros muros sólidos.
Uns protegem, outros não.

“Há um muro de Berlim dentro de mim”

Humberto Gessinger – vocalista do grupo Engenheiros do Havaí – na canção de sua autoria, “Alívio Imediato”


Muro... Um mundo ilusório

Há muros que já foram derrubados e outros muitos ainda precisam ser.  Os piores 

estão dentro de nós. Existem na nossa imaginação ou na nossa cultura. São os 

mais difíceis de serem tombados porque são invisíveis, embora sólidos e resistentes. 

São feitos de medos, idéias preconcebidas, crenças e opiniões. Por que 

continuamos a alimentar verdades que não são verdadeiras? É verdade para nós e 

não para outros. Também pode ter sido verdade no passado e não ser agora ou 

no futuro. O mundo muda e nossas perspectivas também.

As religiões orientais falam que o mundo no qual vivemos e tudo o que vemos e 

acreditamos não existe na realidade. São apenas construções de nossas mentes. 

Construções, como muros dentro de nós

 Muros & Murros

“Até os planetas se chocam... e do caos nascem as estrelas”.


Nas profundezas da alma há sempre insatisfações.  Ilusões do sonho de uma 

felicidade que não conseguimos. Ou não atingimos o que tanto desejamos no 

amor, na carreira, na vida.

O filósofo Mário Sérgio Cortella ensina que o homem insatisfeito é o que tem o 

poder de provocar mudanças ao seu redor. A satisfação conclui, encerra, termina.

Acima da pele,
Existe uma...
“Murada”

Burca afegã


“Nas ruas de Cabul, uma mulher ocidental chama muita atenção indesejada. Sob a burca eu estava livre para olhar à vontade sem que ninguém me olhasse. Eu podia observar as outras pessoas da família fora de casa sem atrair a atenção para mim. O anonimato tornou-se uma libertação, era o único lugar onde podia me refugiar, porque em Cabul praticamente não há um lugar tranqüilo para se estar sozinho. Também vestia a burca para saber como é ser uma mulher afegã. Como é espremer-se num dos três bancos traseiros de um ônibus quando há muitos bancos livres na frente. Como é dobrar-se no porta-malas de um táxi porque há um homem no banco de trás. Como é ser olhada como uma burca alta e atraente e, ao passar pela rua, receber o primeiro elogio "burca" de um homem. Com o tempo comecei a odiá-la. A burca aperta e dá dor de cabeça, enxerga-se mal através da rede bordada. É abafada, deixando entrar pouco ar, e logo faz suar. É preciso tomar cuidado o tempo todo onde pisar, porque não podemos ver nossos pés, e como junta um monte de lixo, fica suja e atrapalha. Era um alívio tirá-la ao chegar a casa.” Texto retirado do livro “O Livreiro de Cabul” de Âsne Seierstad 


Filhote de porco espinho

“A história dos porcos espinhos.” É só clicar abaixo.



Acima da pele,
Existem...
Relacionamentos

Nossos bens materiais não dizem quem somos, só o que temos. Não preenchem 

nossos vazios como ocorre quando temos uma boa amizade.

Somos muito mais gentis com as pessoas que são menos próximas e íntimas de nós. 

Quanto maior convivência, menos medo de causar má impressão e menos medo de 

que o relacionamento acabe. O excesso de intimidade com alguém faz com que 

projetemos nele todas as nossas deficiências ou tudo que não toleramos em nós. 

É um processo inconsciente no qual expulsamos de nós e transferimos para o 

outro, enxergando nele, o que não toleramos em nós. O outro passa a ser o 

depósito de nossos fracassos e imperfeições enquanto deveria ser o contrário 

porque é quem passa mais tempo conosco.



Cerca de Grandes Muros Quem te Sonhas

Cerca de grandes muros quem te sonhas. 
Depois, onde é visível o jardim 
Através do portão de grade dada, 
Põe quantas flores são as mais risonhas, 
Para que te conheçam só assim. 
Onde ninguém o vir não ponhas nada. 

Faze canteiros como os que outros têm, 
Onde os olhares possam entrever 
O teu jardim com lho vais mostrar. 
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém, 
Deixa as flores que vêm do chão crescer 
E deixa as ervas naturais medrar. 

Faze de ti um duplo ser guardado; 
E que ninguém, que veja e fite, possa 
Saber mais que um jardim de quem tu és - 
Um jardim ostensivo e reservado, 
Por trás do qual a flor nativa roça 
A erva tão pobre que nem tu a vês... 

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
Tema(s): Conselho


2012/2013

Hoje é véspera da virada do ano. Uma burocracia do calendário cósmico que se 

repete delimitando a fronteira entre o antes e o depois. Deste Tempo que 

controla a humanidade e que nunca atrasa ou pára... O toque de alerta que  nos

permite encerrar etapas e iniciar outras.   Tempo de despedidas, de jogar uma pá 

de cal no que está mal resolvido para que as transformações aconteçam. Tempo de 

largar as cascas ou “desmurar” para que, mais leves e menos armados, nos 

coloquemos como uma folha de papel em branco para novos acontecimentos. 

Tempo do fim para permitir o início do novo dentro de nós.

Maria Célia








sexta-feira, 8 de junho de 2012

re-des-cobertas-no-cais

re
des
cobertas
no
cais
1º.
valongo
2º.
imperatiz
porto 
maravilha



Quando o Cais do Valongo foi soterrado para a construção do Cais da Imperatriz - que receberia Dona Teresa Cristina, em 1843 - Dão Pedro II não poderia imaginar que a história escondida do porto que mais recebeu escravos africanos no mundo voltaria à tona dois séculos depois, graças a mais um processo de revitalização urbanística. Dessa vez, no entanto, o alvo é a Olimpíada do Rio, que acontecerá em 2016, e pela primeira vez desde a construção do Cais da Imperatriz, o Valongo volta a ocupar lugar de destaque na nova paisagem da cidade.

Escavações no sítio arqueológico do cais do Valongo / Foto divulgação Museu Nacional - UFRJ
Achado fortuito?
Nada de acaso. O cais do Valongo estava sendo buscado quando foi reencontrado nas escavações para as obras de revitalização da Zona Portuária no Rio. Quem explica é a arqueóloga do Museu Nacional / UFRJ Tânia Andrade Lima, que coordena a equipe de pesquisadores da área.
“A imprensa vem noticiando meio equivocadamente que teria sido um achado fortuito. Não foi”. Por conta da legislação atual o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) exige que em qualquer interferência no subsolo haja a monitoração da área. “Entendemos que existia um sítio arqueológico, o cais da Imperatriz, porque há um pilar naquela área. Mas o nosso maior interesse não era o cais da Imperatriz, mas o do Valongo, que foi vítima de apagamento deliberado, como se fosse uma chaga vergonhosa do Rio de Janeiro”, falou a arqueóloga se lembrando de como um cais foi construído sobre o outro.
“Havia uma circunstância de amnésia social e a arqueologia é contra essa prática. Entramos com um pedido para resgatar o Valongo há uns sete, oito meses, e o Iphan aprovou”, contou a arqueóloga, que chama o cais de “patrimônio dos afro-descendentes” e pede para não usar a expressão “descoberta”. “Quando as frentes da Prefeitura chegaram, foram encontradas as pedras do cais da Imperatriz. E percebemos que tinha um aterramento. Uns 60 centímetros abaixo nós encontramos o cais do Valongo.”





Em 1816, durante a estada da família real portuguesa no Brasil, chegou ao Rio de Janeiro um grupo de artistas franceses com a missão de ensinar artes plásticas na cidade. O grupo ficou conhecido como Missão Artística Francesa.


Jean Baptiste Debret, figura fundamental da missão, foi um dos responsáveis por registrar parte relevante das mudanças sociais daquela época.  Retratou os membros da monarquia, o povo, os costumes e vários aspectos da cultura. 

Pintura de Debret

Pintura de Debret 


Hoje, com o que foi achado nas escavações, percebemos com maior clareza como estes artistas ajudaram a contar toda a história do povo que ali vivia.


‘DESEMBARQUE' (1835), PINTURA DO ARTISTA ALEMÃO J. M. RUGENDAS

Conta nossa história que...

Segundo as ordens do Marques do Lavradio, a partir de 1.774, toda a compra e venda de escravos deveria ser realizada na região do Valongo. Estava proibido o comércio de escravos no Centro da cidade.

“Eles queriam que a cidade tivesse um ar mais europeu e por isso queriam transferir os negros para um único local, longe da vista de quem chegasse à cidade” 

historiador Claudio de Paula Honorato.







MERCADO DE ESCRAVOS NA RUA DO VALONGO, DEBRET, AQUARELA SOBRE PAPEL, C. 1816-1828. REPRODUÇÃO DO LIVRO DEBRET E O BRASIL OBRA COMPLETA, ED. CAPIVARA, 2009


Os negros chegavam ao cais e os que estavam aptos à venda eram levados para as diversas casas situadas nas costas do morro do Livramento, da Conceição e da Gamboa. Nestas casas, os senhores moravam no andar superior e os escravos eram exibidos, para a compra, no andar térreo das propriedades.

Em 4 de setembro de 1843, desembarcou no Rio de Janeiro a princesa da casa reinante de Nápoles, Thereza Cristina de Bourbon, para se casar com Dom Pedro II.

Para a chegada da futura imperatriz, o imperador ordenou as obras de embelezamento e melhoramento do Cais do Valongo, que ganhou um pavilhão de luxo e passou a se chamar de Cais da Imperatriz

Para marcar a chegada de Thereza Cristina, a Câmara Municipal, encarregou a Academia de Belas Artes de erguer um monumento-chafariz em cantaria na então Praça Municipal, hoje conhecida como Praça Jornal do Comércio.



A família imperial - da esquerda para a direita: conde d'Eu, D. Pedro II, D. Teresa Cristina e a princesa Isabel.
Foto por Alberto Henschel.


“Os Invisíveis”

Conheça um pouco da cultura dos escravos através de seus objetos




http://globotv.globo.com/infoglobo/o-globo/v/conheca-um-pouco-da-cultura-dos-escravos-atraves-de-seus-objetos/1960589/

 



"Na literatura arqueológica, esses objetos pessoais são chamados de 'os invisíveis', pois contam as histórias das pessoas, falam de suas angústias e temores, de seus medos e sofrimentos. Os amuletos, por exemplo, eram os últimos recursos desesperados para a proteção do corpo sofrido e da vida de cada um dos escravos que passaram por lá", relata a arqueóloga Tânia Andrade Lima.

“Novo é não usado”...

Nesta área da Cidade foi encontrado um cemitério de pretos novos, que eram os negros que acabavam de chegar à cidade. É o único deste tipo nas Américas. Foram enterrados seis mil africanos recém-chegados neste cemitério entre 1806 e 1830.

 “A nomenclatura ‘novo’ se refere ao uso, como os negros eram tratados com objeto, novo era o escravo que não tinha sido usado, que ainda não tinha sido vendido”, explica o historiador Julio César Medeiros.





É para pensar.
Maria Célia